31.1.11

Um pouco de compreensão, enfim!

Twit This!
Imagino que tenha aquelas pessoas que volta e meia leiam sobre a Xira. Pelo menos as Estatísticas do blogger me informa que tem.

Dito isso, talvez você tenha lido sobre a má-fama da Xira. Sobre o ódio das pessoas para com ela, chegando até a ser agredida por um dono de cão, me fazendo acreditar que aquele ditado "quem não gosta de bicho não é boa coisa" não seja de todo mentira. Ouso dizer que até quem gosta pode ser perigoso. Alguns têm animais e demonstram afeto, mas na hora de corrigir pisam na bola, ou se irritam demais e passam a agredir seus próprios animais, assim como é com pais e filhos por todo o país. Tolerância é diferente de amor, e a falta de tolerância e a apelação é que são perigosas.

Se vocês leram o post do dia em que a minha cachorra foi agredida, imagino que vocês sentiram parte da minha angústia e raiva. Mas hoje, ah! Hoje eu venho com uma boa notícia. Pra variar.

Vamos chamar a cachorra mestiça de pit bull de Briga. Eu ainda não sei o nome dela - e nem me interesso em saber -, mas "cachorrona" e "cadelona" são dois adjetivos que já desgastaram minha língua e meus ouvidos. E até meus olhos, em caso de leitura e digitação.

Então: a Briga foi ontem pra praça. Xira brincando com o Nhoque, no que eu só vejo a Briga com guia arrastando no chão, presa à coleira de pescoço dela, indo pra cima da Xira. Direto. Nem chamou pra um cafezinho antes, ou um jogo de damas, nada. Partiu pro ataque convencida!
Todo mundo atrás, eu gritando o nome da Xira, meu pai assobiando, uma bagunça! E o dono da Briga, onde estava nesse meio tempo? Não sei dizer. Em algum ponto atrás de mim, eu acho. 

Contivemos a Xira - mais especificadamente, meu pai. Eu estava, pra dizer o mínimo, animada por uma discussão com aquele homem, o dono da Briga. Uma troca de idéias, quem sabe? Um papinho sobre nossas cadelas? Uma amostra grátis de simancol?

Gabriel (um dos meus amigos da praça), de 11 anos, comunicou-me que quando fomos embora, o dono da Briga também foi. Só esperou nós saírmos. O que prova que ele está indo pra implicar. Não? Quem é que se dá o trabalho de ir pra praça pra soltar o cachorro e vai embora em seguida que a "problem dog" sai? Se fosse o oposto, eu daria graças a Deus e ficaria com a Xira lá, afinal, o problema foi embora e sem  discussões acaloradas. 

Então hoje veio a dona da Lola. É, aquela dona chata que eu já tava saturada e xingando pelos cotovelos. Hoje, ela ganhou um ponto a mais na minha concepção. Hoje, ela pareceu mais humana, mais passiva e calma, mais inteligente, mais gentil. Ah, não comigo, claro. Comigo ela falou do mesmo jeito e me olhou da mesma forma. Mas pensando bem, ela é a única que fala comigo como se eu tivesse a idade que tenho. O resto me vê como uma criança de 12 anos (e eu pareço mesmo) e ignora meus comentários e até mesmo minha presença. "Papo de adulto criança não se mete".

Mas não vim falar de mim. O post e o blog são sobre a Xira. Então, continuemos:
Conversamos sobre o ocorrido naquele dia da agressão. 
- Mas nem foi a Xira que começou, tadinha da minha filha. Ela foi cheirar o Nhoque e a cachorra se botou nela com tudo, nem deu tempo de nada. 
- É mesmo?
- Aham. E ao invés dele segurar a dele, ou mesmo a minha, foi e chutou a Xira, coitada.
- Chutou?
- Foi.
- Que cara doido! Mas eu já notei que ele não faz nada em relação à cachorra dele, ele é novo na praça. (Ok, eu também sou, e daí?)
- É, ele é mesmo. 
- Mas ele tem que pôr uma focinheira na cachorra dele se ele quer deixar ela solta!
- Sim! Eu botei na Xira na pior época dela e foi o que melhorou o comportamento. Ela tá muito mais tolerante agora. 
- Agora que a tua se acalmou vem essa pra estragar a tua cachorra.

Não tem o que descreva o que eu senti nesse momento. Um sentimento bom, como quando concluímos um grande projeto que levou muito tempo, que gastou muitas horas da nossa vida e que por várias vezes pareceu não dar certo, sendo então reconhecido. Às vezes eu me sentia decepcionada com a Xira e as pessoas na praça, a reação que ela gerava, de repulsa e medo. Às vezes eu me peguei chorando pela Xira, pelo jeito que tratavam ela, pela incompreensão e ignorância do povo, pela falta de companheirismo e até de apoio. Pra mim, essa frase teve um baque tão positivo que eu sinto que tenho a melhor cachorra do mundo. Teimosa, de personalidade forte, explosiva, mas ao mesmo tempo tão inteligente quanto aquele cachorro que sabe mais de 400 palavras, um Border Collie. A evolução que ela teve, de um cachorro do mato pra uma cachorra que tolera outros cães, pequenos animais, homens - jovens e velhos -, faz dela a melhor cachorra do mundo. Pra mim. 

Admito que fiquei chocada com essa frase. Foi quase um elogio, mas serviu tão bem quanto. E não parou por aí. Ela ainda me disse que a Rita (dona da Lilica e do Frederico) e os outros que pararam de ir por causa da Xira, estavam pensando em voltar a frequentar a praça naquele horário, porque já foi reconhecido que a Xira está bem melhor, que ela evoluiu e agora consegue aceitar a presença de outros cães. Ela não é perfeita, é claro. Nenhum cão é. Nenhum dono é. Mas não se passou nem um trimestre desde que começamos a incentivar a sociabilização e a tolerância dela para com outros cães e pessoas.

Nos decepcionamos muito, é verdade. Teve momentos que eu quis sumir do mapa. Aquele momento que ela foi pra cima do maloqueiro. Ou aquele que ela mordeu o Badu, amiguinho dela. Ou o Nhoque, ou o Ed. Cães que ela sempre se deu bem e de repente, ela não queria mais saber. 
Também teve momentos em que eu me sentia mal e envergonhada. Como quando ela latia para cachorros, gatos e maloqueiros do outro lado da rua e me arrastava por quase 1m. E ainda tem as decepções dentro de casa: as duas vezes que ela avançou no Gugui, a vez que ela avançou no meu irmão, a vez que ela enfrentou meu pai rosnando pra ele, a vez que ela rosnou e segurou minha mão com a boca por causa do osso, a vez que ela conseguiu arrancar a minha unha postiça - e doeu muito - quando eu ia colocar a coleira dela pra saírmos, a vez que ela foi mordida pela Mel e furou a orelha dela.

Xira é uma cachorra difícil de lidar. Mas também é a prova de que todo animal tem recuperação, mesmo que o caso dela não seja dos piores, mesmo que eu não tenha experiências horrendas pra contar. Pra mim, essa experiência foi horrenda. Isso porque eu sempre tive cães bem socializados, bem comportados, pouco barulhentos, obedientes, treinados. Meu único estresse era o puxão que a Lil dava na guia quando eu passeava com ela. 
Então que base eu tenho pra lidar com uma cadela como a Xira? Nenhuma. Treinos de obediência básica não resolveriam o meu problema. Treinador? Não trabalho, meus queridos, tenho 18 anos e ainda estudo, não tenho como pagar e meu pai não apoiaria. Vê o treinador como uma escola militar ambulante.

O que acontece é que depois de o quê? Dois meses frequentando a praça, tendo colocado focinheira uma época, tendo andado presa na guia o tempo todo, agora Xira tem liberdade condicional todo domingo - passeia com o meu pai pela manhã sem guia, dando a volta na quadra com ele e voltando pra casa sem maiores transtornos, sem fugas ou mordidas -, tem liberdade de sair da praça para se esfregar no que quiser - seja gramado, cocô, defunto; nada que um banho não resolva depois - sempre voltando quando chamada e, numa possível fuga, até demonstrando obediência (senta e deita) sem guia, sinais ou qualquer outra coisa do gênero, apenas entendendo as palavras e a necessidade de obedecer naquele instante em que tudo dá errado e além de tudo isso, de repente, ela mostrou mais um avanço: hoje pela manhã, no passeio sem guia semanal dela, passou um maloqueiro e ela nem o olhou. Há um tempo atrás, ela teria ido atrás, corrido e perseguido a pessoa. Esses dias mesmo, como eu postei, tirei uma carne que me fez desconfiar do pessoal da praça da boca dela. Antigamente, esse ano geraria um provável rosnado ou até uma mordida de aviso, como foi com o osso. Dessa vez ela não resistiu, nem tentou pegar de novo a carne. Quer cadela mais obediente e inteligente que essa?

De repente, ela é que apanha de uma cachorra. De repente ela obedece e fica por perto, quando vê, tá até comendo na mesa de garfo e faca.

Xira é a pior cachorra que eu tive, sendo a melhor de todos. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Tadinha da Xira, sempre sofre vários preconceitos.
Sorte a dela ter uma dona mega paciência, Buh. XD

que bom que estão reconhecendo que ela está melhor.