23.12.10

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os passeios
As idas à praça com a Xira têm recaídas, mas em geral eu vejo alguma melhora em como ela lida com cães - ela tem sido mais atacada do que tem atacado, o que não acontecia antes e não, isso não é bom, pois ela pode ficar traumatizada ou aprender a atacar antes. O que posso dizer é que aprendi que soltar um cão, mesmo que num parque pra cães, não é legal. Isso porque se o teu cachorro é manso, o outro correndo daquele lado de lá pode não ser receptivo ao teu cachorro. Nada de brabeza, só não ser receptivo: brigar por território, se sentir ameaçado/assustado, não ser submisso a outros cães ou até má socialização. Sem contar o risco de fuga e atropelamento.

cesar millan
Em todo o caso, eu venho discutido algo que tem me atrapalhado em muito no relacionamento da Xira com outros cães e no meu mesmo com outros donos: a fama do Cesar Millan. Por quê? 

Bom, primeiramente eu gostaria de dizer que li muito sobre os métodos de "adestramento" (entre áspas porque de acordo com ele, não é o que ele faz; o que ele faz nas palavras dele, é reabilitação, o que eu acredito ser uma palavra mais adequada pra psicologia canina usando reforço positivo do que pro que ele faz, que é a dessensibilização e contracondicionamento - pesquisem) do Cesar Millan e não faz meu gênero. Acho agressivo e vago demais. 
Na verdade, do trabalho dele quem cuida é ele. Isso não é problema meu. O grande problema é gente desinformada - não que eu seja a mais sabichona do mundo, aliás, sei muito pouco sobre adestramento - defenda cegamente suas técnicas sem antes conhecer todas as possibilidades. Ou, pelo menos, se informar sobre as técnicas usadas no programa do dito cujo.

O que eu queria, era poder pegar minha listinha de livros, baixar e ler os mais importantes - ou possíveis - pra poder comunicar melhor o que quero dizer. Mas vamos ao exemplo:

Em um belo dia de sol, uma senhora de cabelo pintado de vermelho - não ruivo, vermelho! - se aproxima com seu cocker dourado, chamado Bob, de oito anos. Como todo o cocker, ele tem um temperamento difícil por ser teimoso e a senhora de cabelo curtinho e vermelho comenta orgulhosamente:
- Já viu O Encantador de Cães? Eu apliquei as técnicas dele com o Bob pra ele andar do meu lado, e funcionou muito bem. Tu deveria tentar na tua! Porque é fácil, é só ter uma energia calma e ser firme, mostrar pro cão quem manda. Eu tive um pouco de dificuldade, mas hoje, ele anda do meu lado direitinho. 

No que me pego pensando em como será que ela tentou ensinar o cão a andar ao lado dela. Ter uma "energia calma" e "mostrar quem manda" simplesmente não me diz nada. Dar puxões na guia pro lado? Cutucões? Não, obrigada. 

Outra coisa que ele diz, é que o cão é o irracional, mas não é. Todo animal com capacidade de resolver problemas é considerado racional. Cada um de seu modo, à medida que o genótipo permite. E a partir disso, é naturalmente impossível que eles nos vejam como cães, assim como Cesar insiste. Explico:

1) Eles têm pêlos. Nós, temos roupas. Eles sabem o que são roupas? Não acho que um cão consiga definir o que é uma coisa que colocamos e tiramos todos os dias. Talvez eles consigam diferenciar os cheiros dos tecidos, sendo assim, temos vários cheiros ao longo do dia, ao longo da semana, ao longo do mês, que mudam, se misturando ao cheiro do nosso corpo, ao cheiro do cigarro que fumamos, do álcool que bebemos. E isso acaba criando um monte de cheiros específicos que nos distinguem para os cães (ou será que o cheiro do tecido da roupa fica impregnado com o nosso? E o sabão em pó?). Não, nada disso é ciência, apenas uma teoria baseada no olfato dos cães. Coisa minha.

Sabemos que roupas, tecidos, nossa pele, o cigarro, a bebida, nada disso tem cheiro de cachorro. Cada cachorro tem seu cheiro próprio, isso é óbvio e de senso comum. Mas, cachorro tem cheiro de cachorro assim como gato tem cheiro de gato, certo? Se seguirmos essa linha de raciocínio - e não estou dizendo que estou 100% correta, afinal, quem realmente está? -, acho que podemos concordar que os cães não nos vêem como outros cães. Também não emitimos os mesmos sons que eles, não temos as mesmas expressões corporais que eles. Se fosse o caso de cães nos verem como iguais, eles nos cumprimentariam cheirando nosso traseiro em busca de alguma identificação da glândula odorífica, correto? Pois a única vez que a Xira cheirou minha bunda, foi quando eu sentei no banco de um táxi e voltei pra casa. Ela estava apenas reconhecendo o local por onde passei, que tem milhões de cheiros diferentes.

2) Falemos sobre matilha: eu procurei e dei uma lida sobre diferenças entre cães selvagens, cães domesticados, lobos e chacais. O cão selvagem - aquele arisco à sociedade, mesmo vivendo nela, como o Dingo - não vive em matilhas. Eles formam um casal, criam seus filhotes, aos 2 anos dos filhotes, cada um vai para o seu lado e os filhotes formam novas famílias, assim como o casal que os gerou. O chacal vive sozinho e até briga agressivamente por território e comida se outro chacal aparecer. Foi comprovado que apenas em algumas regiões - onde a comida é escassa ou de difícil acesso, como ter que caçar bisões - os lobos, no inverno, formam matilhas familiares pra ter mais chances de sobreviver. Depois disso, voltam a se dispersar, mantendo algumas vezes, o convívio entre macho e fêmea alfa. Os filhotes e filhotes dos filhotes, se dispersam. As hienas não são tão próximas dos cães, mas essas sim vivem em matilhas e mesmo assim, algumas saem da segurança da matilha e arriscam caçarem sozinhas. Cães vira-latas ou rafeiros, mesmo: alguém já viu matilhas de cães? No mais, vi cães em duplas, geralmente um macho e uma fêmea, pra garantir a reprodução, sendo mais fácil acharem alimento se tiverem ajuda mútua, etc. Não que cães não sejam animais de matilha, mas são extremamente adaptáveis e creio que vivem conosco mais por amizade, coleguismo, até por comodismo (quer vida melhor que receber comida, água, disponível 24hs do dia sem ter que fazer nenhum esforço e ainda poder brincar, pular e sair pra passear?), do que matilha propriamente dita. Talvez nos vejam como entes queridos, e eu acredito nisso. Mas por que um cão iria querer disputar liderança, se nós nunca vamos comer o resto de ração deles? Ou deitar de barriga pra baixo, deixar eles montarem em nós pra mostrar submissão a eles, deixarem eles dormirem nas nossas camas enquanto dormimos no chão? Um cão dominante come a melhor parte da "carcaça" e deixa o resto pros dominados. Nós comemos a comida boa e deixamos a ração ou restos de nossas comidas pra eles. Somos os dominantes? Daí eles quererem nos enfrentar? Acho que eles nos enfrentam por milhares de motivos, e isso inclui maus tratos, teimosia, desagrado, traumas, sustos, hormônios, estresse, mimos demais - deixando o cão achando que se tu não der o que ele quer não tá bom, te forçando agressivamente a isso, assim como crianças à lá Supernanny. Acredito sim que alguns cães se "revoltem" conosco - não faça isso! não gosto dessa coisa com esse troço que sai água! sai daqui! vou te morder! há, você mereceu, eu mandei não me molhar nesse lugar. E não gosto dessa coisa gelatinosa desse pote aí. Arde meu focinho. Se tentar se aproximar, te mordo de novo!

Então sim, eu discordo do Cesar. Mas isso sou eu. Tu pode concordar, achar tudo maravilhoso e tudo bem, eu respeito. Mas exijo que me respeitem também. Dizer que a minha cadela avança nos outros, foge da praça e tem medo de mendigos porque eu, do outro lado da pracinha estou preocupada que ela fuja e seja atropelada? Cães enxergam, de longe, como bebês: apenas borrões. Como ela leria a minha expressão corporal? (E isso sim, foi comprovado que cães conseguem fazer! Cães nos entendem) De acordo com os seguidores/fãs/entendidos do Cesar, ela sentiu a minha energia. Sinto muito, ao meu ver, cães não são médiuns: são cães, animais de uma espécie diferente complexa e super interessante que evoluiu ao lado da nossa civilização durante milhares de anos pra chegar ao nível de compreensão que chegou. E infelizmente, não sabemos quase nada sobre nossos melhores amigos

Agora, quero comentar sobre um comercial que passa no Animal Planet do programa O Encantador de Cães, que creio, todos - ou pelo menos a grande maioria - já viram: a moça reclama, ao lado de outra moça, que o teckel (ou linguicinha) macho dela tem ciúmes da amiga, que avança e etc. Ok. Em todo o caso, o cão vira de barriga pra cima e relaxa (sim, meus caros, aquilo é um cão relaxado e tranquilo!), no que Cesar diz algo assim: Ele é castrado? Porque ele virou e mostrou que não era castrado. 

Agora, o que é castração? É uma cirurgia onde removem-se os testículos do cão, nesse caso. Coloquem-se no lugar do cão. Estão super felizes brincando em sua casa, com seus donos, no que em algum momento o dono pega a coleira, que claramente àquela altura, significa RUA! Aí, vocês pensam: "Oba! Passeio! Rua! Cheiros! Sol!" e abanam o rabo freneticamente, orelhas pra trás, boca aberta e puxada pra trás, mostrando claramente que vocês estão FELIZES em ver aquele objeto.

Então a fase dois: o passeio até a clínica. 
Cheiros, muitos cheiros, pessoas, pessoas indo e vindo, cães passam pra cá e pra lá, onde estão indo? Quero cheirar tudo, ôpa, uma cadelinha no cio passou aqui, que faceirice, você vai me levar pra ela? Ela parece tão receptiva, acho que vou fazer xixi aqui, olha um gato bem ali! Eu quero pegar! Só brincar! Prometo não fazer nada errado! Ah, ok, vamos por aqui então. O que tem aqui? Que coisa gigante que abre e fecha é isso? Não parece com nada que temos lá em casa. Ah, certo, cães. Mas o cheiro daqui é diferente, por que tem cães chorando? O que tem aqui? Ah, olha! Uma pessoa! Adoro conhecer pessoas novas, posso ir cheirar aquele ali? Também gosto de conhecer cães novos, ele parece tão agitado, eu preciso cheirar! Ah, droga, por que fechou essa coisa na minha cara? Aaaahhh, carinho, carinho, carinho, preciso te beijar, eu adorei tanto o seu carinho! Tá falando comigo? Meu Deus, olha só, ele tá falando comigo, é comigo né? Tem que ser comigo, só tem eu e meu dono aqui e ele tá olhando pra mim e ôpa! Que que você tá fazendo? Ah, certo, que coisa metálica e cinza é essa? Quero descer, tenho medo de altura, rabo entre as pernas, orelhas pra trás, cabeça baixa, tenho que mostrar que estou com medo, mas ele não me tira daqui! Que que eles estão falando? Estão falando certo? Estou tão ansioso e tão nervoso, eu queria sair daqui. Ele está querendo que eu deite? Tá, eu deito, assim, pronto? Posso descer agora? Por favor, por favor, por favor, não gostei dessa coisa gelada e o chão tá logo ali, quero voltar pra outra salinha conhecer cães novos, por que continuam chorando? Ah socorro! Ele tá enfiando um troço no meu braço e dói! Que que é isso? Que que vai acontecer comigo? Eu tô ficando com sono...Com muito sono. Nem quero mais ir pro chão... Vou só tirar um cochilo... Tô cansado.

Após a cirurgia, o cão acorda com um colar elizabetano - que ele também não sabe o que é - dentro de uma gaiola, às vezes com soro, às vezes não, e nem sabe o que passou ou o que perdeu no caminho. O cão SABE que foi castrado? O cão do veterinário vai e comunica? Como assim? É uma ofensa à minha humilde inteligência.

Só pra deixar bem claro que, por favor, parem de me importunar com o Cesar Millan. 8) Porque eu não concordo com o modo dele pensar, a lógica dele, não tem lógica pra mim. E ponto. Isso é que nem religião, política e futebol, não se discute, apenas se aceita. Opinião é que nem cu, cada um tem o seu. Pronto, falei!

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